Angus propõe investimento na genética nacional

Angus propõe investimento na genética nacional

Campanha da associação da raça pretende incrementar utilização de sêmen produzido por touros criados no Brasil por meio do processo de inseminação artificial e aproveitando exemplares já adaptados ao clima local

Poti Silveira Campos

Animais com genética Angus

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Surgida no nordeste da Escócia há cerca de 200 anos, a raça angus tornou-se alvo de uma campanha de aperfeiçoamento genético. O objetivo do programa Touro Angus Nacional é atingir uma seleção de raça pura, por meio de inseminação artificial, utilizando sêmen produzido no Brasil. A iniciativa é da Associação Brasileira de Angus (ABA). “O touro angus nacional é tão bom como qualquer angus vindo de qualquer parte do mundo, com seu principal diferencial que é a capacidade de adaptação ao nosso sistema de produção”, diz o gerente de fomento da ABA, Mateus Pivato. No país, a criação de angus começou em 1906, no Rio Grande do Sul, com um touro importado do Uruguai. A Argentina foi a primeira nação sul-americana a receber exemplares vindos da Europa, em 1879.

De acordo com Pivato, o programa Touro Angus Nacional atende demanda do setor agropecuário por uma genética adaptada ao clima e às condições da pecuária brasileira. Ele explica que o desempenho genético do touro nacional tem qualificação para produção de carcaça comparável a de animais dos Estados Unidos, Argentina ou Canadá, principais países de origem do sêmen importado pelo Brasil. “Selecionamos animais de pelo curto e liso, com maior resistência a ectoparasitas. Somos o único país no mundo que tem diferença esperada da progênie de resistência a carrapato”, diz Pivato, referindo-se à técnica empregada para comparar o mérito genético de animais para várias características e prever a habilidade de transmissão.

Pivato destaca dados do Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne, um dos mais antigos programas de aperfeiçoamento da pecuária no Brasil, em execução desde 1974, com aval do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para comprovar suas afirmações a favor da genética nacional. “Dos cem melhores touros listados para o índice de adaptação, 56 são de origem brasileira, enquanto 41 são importados. E dos 20 melhores touros pais, 15 são nacionais e apenas cinco são importados”, aponta.

Hoje, com cerca de 15 mil produtores no Brasil, a raça angus é a que tem o maior número de touros em coleta no país. Em fevereiro, de acordo com o Mapa, havia 232 touros ativos em coleta, dos quais 157 de origem nacional, representando a seleção genética de 36 selecionadores da raça em todo o país. “Destes 232 touros, 86 eram de criadores do Rio Grande do Sul.

Do total, tínhamos 45,8% em regime de coleta no Rio Grande do Sul, 41,1% em São Paulo, e 16,9% em Minas Gerais. Dos 36 selecionadores, 26 são criadores gaúchos”, contabiliza Pivato, logo depois do ato de lançamento do programa em Campos Novos, no oeste catarinense, no dia 5 de março. “Vamos à 22ª Expo Outono, (de 22 a 26 de maio), e, antes disso, estaremos no dia 26 de abril participando do dia de campo na Fazenda Reconquista, do Alegrete, de Paulo Dornelles Cairoli. Vamos atuar não somente em feiras e eventos de grande porte. Vamos atuar junto ao criador em dia de campo”, anuncia o gerente.

O lançamento do programa coincide com uma tendência baixista no mercado de inseminação artificial no Brasil. Em 2023, o país importou 5 milhões de doses de sêmen, contra 6,3 milhões em 2022 – queda de 21%. No produto nacional, a redução atingiu 22%, com 24,7 milhões de doses em 2022 ante 19,4 milhões em 2023. O resultado do mercado total indica 21,4% a menos em 2023, com 24,4 milhões, contra as 31,1 milhões de 2022, de acordo com dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Os números contabilizam as doses para os rebanhos de gado leiteiro e gado de corte.

“Isto se deve muito ao momento do mercado, principalmente em 2023, quando tivemos uma grande redução da arroba do boi. Isso acaba dando uma desestimulada no criador. Contudo, esperamos que estes números voltem a crescer gradativamente, e, certamente, voltaremos a crescer na comercialização das doses de sêmen”, explica Pivato. O gerente salienta que também a entrada de touros vivos no Brasil, de origem americana, contribuiu para a redução da importação de doses de sêmen. “Hoje, a raça angus comercializa doses de sêmen em todas as 27 unidades do Brasil. Também temos notícias de exportação de doses para países como Paraguai e Bolívia”, destaca o gerente de fomento da Angus.


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