Por que os EUA defenderiam as Filipinas frente à influência de Pequim no Mar do Sul da China?

Por que os EUA defenderiam as Filipinas frente à influência de Pequim no Mar do Sul da China?

Região é palco de incidentes entre navios filipinos e chineses

AFP

Biden na companhia do primeiro ministro do Japão (à direita) e do presidente das Filipinas (à esquerda)

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A relação entre os Estados Unidos e as Filipinas se estreitou desde que o presidente Ferdinand Marcos chegou ao poder em junho de 2022, impulsionada pelas ações de Pequim na região Ásia-Pacífico e, em particular, no Mar do Sul da China.

Um tema-chave da preocupação é o Mar do Sul da China, onde se repetem os incidentes entre navios chineses e filipinos, que fazem temer o início de um conflito mais amplo que envolva os Estados Unidos e outros aliados.

Esse foi um dos principais temas da agenda da cúpula tripartite entre os Estados Unidos, Japão e Filipinas, na quinta-feira em Washington.

Mas até que ponto os laços entre Manila e Washington se fortaleceram e por que os Estados Unidos estaria disposto a entrar em guerra para defender as Filipinas?

Os Estados Unidos têm a obrigação de defender as Filipinas?

As Filipinas concentram muitos dos esforços dos Estados Unidos para consolidar as alianças nesta região devido à sua proximidade com o Mar do Sul da China e com Taiwan, a ilha com um governo democrático que a China considera como parte de seu território.

Filipinas e Estados Unidos têm uma história complexa que remonta à colonização espanhola, que terminou quando Washington comprou esse território para encerrar uma guerra com Madri.

Desde 1951, os dois países estão vinculados por um tratado de defesa. O pai do atual presidente, o ditador Ferdinand Marcos (1965-1986), foi considerado por Washington como um aliado durante a Guerra Fria e morreu nos Estados Unidos, após ser deposto.

Os altos funcionários do governo de Biden reiteraram que qualquer "ataque armado" contra a presença filipina no Mar do Sul da China invocaria o tratado de defesa.

Em 2014, um acordo de cooperação em defesa entre os dois países concedeu às tropas americanas acesso a cinco bases filipinas.

O pacto ficou relegado durante o governo do presidente Rodrigo Duterte (2016-2022), que manteve uma política favorável à China, mas foi reativado e expandido com a chegada de Marcos ao poder.

Por que o Mar do Sul da China é importante?

O Mar do Sul da China abarca mais de três milhões de quilômetros quadrados e é a principal rota marítima entre o oceano Pacífico e o Índico, o que lhe confere um enorme valor comercial e militar.

Em seu leito, estima-se que há enormes reservas de petróleo e de gás, mas as diversas projeções sobre o tamanho dessas reservas são variáveis.

As tensões acumuladas em torno desse mar o transformaram em um barril de pólvoras e existe o temor de que qualquer erro de cálculo ou, até mesmo, um acidente possa desembocar em um conflito.

Quais são os temas da disputa?

Durante décadas, vários países reivindicam soberania territorial que encobrem diferentes áreas do Mar do Sul da China, suas centenas de arrecifes e ilhas. China e Taiwan reivindicam quase a totalidade do mar e Vietnã, Filipinas, Malásia e Brunei têm reivindicações coincidentes. Os Estados Unidos não têm nenhuma aspiração territorial sobre essas águas, mas habitualmente realiza operações de patrulha na região.

Se uma potência como Pequim controlar a totalidade do Mar do Sul da China "provavelmente outros países que quiserem passar teriam que pedir autorização", explicou Andrea Wong, pesquisadora não residente do Instituto de Assuntos Indo-Pacíficos da Nova Zelândia.

Pequim argumenta que tem "direitos históricos" sobre esse mar, mas em 2016 a Corte Permanente de Arbitragem de Haia determinou que essas reivindicações não possuem amparo legal.

A China ignorou a decisão judicial e, de todos os países que reclamam essas águas como parte de seu território, é aquele que faz com mais afinco.

Como são as relações entre EUA e Filipinas?

Durante o governo de Duterte, as Filipinas se aproximaram da China com objetivos econômicos e comerciais e também deixaram em suspenso a sentença internacional que rejeitou as reivindicações chinesas sobre grande parte do Mar do Sul da China.

Além disso, ameaçaram anular o tratado de defesa com Washington, que permite ter tropas americanas estacionadas em seu território.

Mas Marcos deu uma guinada e rechaçou publicamente as ações da China e deu aos Estados Unidos maior acesso às suas bases militares.

O presidente americano, Joe Biden, reiterou na quinta-feira o compromisso "inabalável" para defender as Filipinas, uma linguagem que muitos altos funcionários de seu país utilizaram nos dois últimos anos.

Pequim criticou os Estados Unidos, Filipinas e Japão nesta sexta-feira e defendeu que suas ações no Mar do Sul da China são "legais".

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