Dia Nacional do Solo motiva reflexão sobre recurso natural e a produção no campo

Dia Nacional do Solo motiva reflexão sobre recurso natural e a produção no campo

Encontro na Capital reúne especialistas em uso racional da terra em práticas agrícolas

Correio do Povo

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No Dia Nacional de Conservação do Solo, celebrado nesta segunda-feira, a utilização adequada do recurso natural em práticas agrícolas será destacada em diferentes fóruns. Em Porto Alegre, a Superintendência de Agricultura e Pecuária (SFA) do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) vai reunir em painel especialistas compartilhar experiências de manejo integrado solo, água, cultivos e criações, sob a perspectiva de conservação ambiental, estabilidade produtiva e resiliência dos sistemas agropecuários frente às mudanças do clima.

O encontro ocorrerá das 13h30min às 17h30min, na sede da SFA – Av. Loureiro da Silva, 515 – 8° andar, na Capital. O primeiro painel está a cargo da Associação de Conservação de Solo e Água (ACSA), com foco na necessidade de reavaliar e readequar o Sistema de Plantio Direto, conforme antecipado pelo Correio do Povo em reportagem em 26 de março. Na sequência, a Rede Técnica Cooperativa (RTC) apresentará o projeto Operação 365, que abrange 29 cooperativas vinculadas à CCGL e parceiras da plataforma digital SmartCoop. Também estão previstas a participação de profissionais da Emater, da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e da Alianza del Pastizal.

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No segundo painel, a Embrapa mostrará as contribuições de pesquisas, enquanto o Mapa abordará estratégias de adaptação à mudança do clima para a agropecuária brasileira, enfocando o Plano ABC para Conservação do Solo e da Água. Os organizadores esperam conhecer e reconhecer as iniciativas com foco em complementaridades e possibilidades de integração e aperfeiçoamento. Também pretendem mapear estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas.

Pilar estratégico

A conservação de solo e água é um pilar estratégico na área agronômica da iniciativa privada. Para o agrônomo Fernando Wergles, gerente global de pesquisa e desenvolvimento agronômico da empresa Alliance One, embora ainda haja resistências para a adoção de práticas sustentáveis, parte dos produtores rurais adotam esses processos como estratégia de sucesso na produção agropecuária. Conforme Wergles, a empresa faz pesquisa, desenvolve e aprimora métodos e faz recomendações aos produtores de tabaco, mostrando os benefícios:

“Melhor produtividade para as plantas e, por consequência, redução de custos e melhora da receita pela melhor produtividade”, afirma.

Conforme Wergles, o primeiro passo para uma estratégia de sucesso é o produtor conhecer bem o solo, com análises química e física. A análise química serve para entender a disponibilidade de nutrientes e o PH. É importante a aplicação de calcário para corrigir o PH, geralmente mais ácido.


Estratégias para ter sucesso no campo

O engenheiro agrônomo Fernando Wergles, trabalha há 14 anos na agricultura. Atualmente, é gerente global de pesquisa e desenvolvimento agronômico da Alliance One, uma das maiores empresas do país em negócios com tabaco. Em conversa com o Correio do Povo, Wergles apresentou pontos que considera vitais para a conservação de solo e água em uma estratégia que pretende aumentar a produtividade no campo e gerar mais renda aos produtores.

ANÁLISE QUÍMICA

O primeiro ponto para uma estratégia de sucesso é o produtor conhecer bem o solo, com análises química e física. A análise química para entender a disponibilidade de nutrientes e o PH, fatores importantes para determinar o correto manejo nutricional e aplicação de fertilizantes na medida adequada. É importante a aplicação de calcário para corrigir o PH, geralmente mais ácido, trazendo-o para níveis ideais para a melhor absorção dos nutrientes pelas plantas.

ANÁLISE FÍSICA

A análise física é para saber se há impedimento no solo que pode acarretar em problema de conservação e dificuldade para o desenvolvimento de culturas. Uma situação muito comum para solos tropicais e de uso intenso da agricultura é a compactação, pelo uso intenso de maquinário pesado ou uso constante de implementos como o arado em uma mesma profundidade, criando uma camada compactada que dificulta a infiltração de água, a drenagem do solo, a penetração das raízes e o desenvolvimento das culturas. Em ano com excesso de chuvas, a água tem dificuldade para infiltrar no solo, aumentando o escorrimento superficial, intensificando problemas como erosão e problemas de afogamento de lavouras.

Em anos secos, a camada compactada, por impedir a infiltração da água na chuva no solo, acaba fazendo com que a água fique mais concentrada na parte superficial do solo, que é justamente a que está mais exposta ao calor do sol, tendo rápida evaporação.

O primeiro ponto, então é verificar se há cama compactada, identificar a profundidade que está e, com isso, adotar estratégia correta para a descompactação, utilizando, por exemplo, a operação de subsolagem, que faz a quebra dessa camada compactada, ajustando o implemento de acordo com a profundidade dessa camada.

PROTEÇÃO

Outra boa prática de manejo é a adoção de plantas de cobertura. Temos diferentes espécies como leguminosas, gramíneas ou crucíferas, que são adotadas nas lavouras. Geralmente após a colheita do tabaco, faz-se o plantio dessas plantas que auxiliam nos processos de descompactação natural, porque produzem um sistema radicular agressivo, que pode penetrar nas camadas mais compactadas e auxiliar a quebrá-las. Além disso, está sendo incorporada matéria orgânica ao solo, o que é fundamental tanto para o desenvolvimento das plantas quanto para a manutenção da microbiologia do solo, que é indispensável para o desenvolvimento das culturas. Quando são dessecadas, essas plantas produzem um massa verde que fica na cobertura do solo, protegendo-o do impacto da chuva contra a desintegração dos grânulos do solo, que depois são carregados pela enxurrada, causando problema sério de erosão, que é a perda da camada superficial do solo. A palhada protege contra o impacto direto da chuva.

Em anos mais secos, funciona como isolante térmico, impedindo o calor direto do sol, mantendo umidade residual por mais tempo, possibilitando melhor desenvolvimento e aproveitamento das plantas dessa umidade que fica no solo.

CONSCIENTIZAÇÃO

De forma geral, houve evolução em relação à necessidade de conservação do solo em comparação a décadas passadas. Temos hoje adoção de táticas de manejos sustentáveis por diversas culturas e crescimento e adoção cada vez maior do Sistema Plantio Direto, que sem dúvida é um dos fatores de conservação, por permitir exploração sustentável, com revolvimento mínimo possível do solo, não desestruturando-o e mitigando problemas de compactação e degradação decorrentes de agricultura intensiva.

Ainda estamos bastante longe de poder dizer que a conservação do solo está em um patamar de atenção que deveria estar.

Alguns produtores ainda utilizam práticas convencionais, com preparo e utilização intensiva do solo, sem reposição de nutrientes e correção do PH como deveria ser feita. Muitos não fazem por não acreditar, outros por não ter informação e ter crenças limitantes que os mantêm em um manejo insustentável. Mas boa parte dos produtores está começando a adotar práticas mais sustentáveis como análise de solo para entender PH e fazer reposição de nutrientes, respeitando quantidade disponível no solo e necessidade das culturas, sem aplicar mais do que é preciso. Isso também é fator de degradação. Quanto mais fertilizante se aplica ao solo, se o solo tem PH muito ácido, não há absorção desses nutrientes pelas plantas, aumentando problemas como lixiviação de nutrientes. Recomendamos aos produtores sempre fazer análise física para descompactar, adubação verde e plantas de cobertura. Para os produtores de tabaco isso está sendo bastante difundido como melhores práticas, entre outras como rotação de culturas e respeitar o período de repouso do solo. Temos muitas oportunidades e espaço para aumentar a difusão e a adoção de boas práticas. Além da conservação do solo, teremos melhor produtividade para as plantas e, por consequência, redução de custos ao produtor e melhora da receita pela melhor produtividade.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895