Importações brasileiras de lácteos consolidam alta de 74,2%

Importações brasileiras de lácteos consolidam alta de 74,2%

Elevação acumulada em 2023 supera em dez pontos percentuais a de 2022, aponta o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic)

Itamar Pelizzaro

Série histórica desde 2012 mostra que país está no auge nas importações

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As importações brasileiras de lácteos (leite, creme de leite e laticínios, exceto manteiga ou queijo) encerraram o ano de 2023 com alta de 74,2% ante as totalizadas em 2022. Alvos de protestos, manifestações públicas e articulações políticas, que envolveram toda a cadeia produtiva, as compras totalizaram a 231,3 mil toneladas de janeiro a dezembro, e os desembolsos, 853,62 milhões de dólares (+66%).

Os produtos, que elevaram a oferta às indústrias e derrubaram os preços da matéria-prima no mercado interno, provêm, em maioria, de países pertencentes ao Mercosul, cujas operações são isentas da Tarifa Externa Comum (TEC). O valor pelo quilo comercializado no período teve redução de 4,7%, fechando a 3,69 dólares, conforme os dados consolidados pela plataforma Comex Stat, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

As informações também denotam que o Brasil fechou o segundo ano consecutivo com alta na aquisição externa de lácteos, principalmente com origem no Uruguai e na Argentina. Em 2022, o país importou 514 milhões de dólares e acumulou um crescimento de 64% ante os 12 meses de 2021, ou seja, dez pontos percentuais a menos que o resultado acumulado em 2023 sobre o ano anterior.

A Argentina consolidou-se como líder nas remessas ao Brasil, com participação de 45,5% no total de produtos lácteos importados pelos brasileiros no ano passado. O incremento é de 40% em relação ao ano anterior, com faturamento de 388 milhões de dólares - acréscimo de 111 milhões de dólares sobre os negócios de 2022.

Entretanto, o Uruguai deu um salto ainda maior, com variação de 87,7% nos negócios realizados de um ano para outro. O país faturou 354 milhões de dólares, mais 166 milhões de dólares que em 2022, abocanhando uma fatia de 41,5% das transações.

O estado São Paulo foi o que mais importou lácteos em 2023 (26,8%). O desembolso foi de 229 milhões de dólares, quantia 64,8% maior que a aplicada em 2022. Santa Catarina está na segunda posição, com aquisições que somam 168 milhões de dólares (+54,9%) e participação de 19,7%. Já o Rio Grande do Sul gastou 154 milhões de dólares com as importações. As compras gaúchas foram 26,8% maiores que as de 2022, e o Estado responde por 18% do total comprado nos últimos 12 meses.

Exportações em queda

Na mão inversa, o Brasil reduziu a renda com as exportações de lácteos em 11,1% no acumulado de 2023 em comparação ao de 2022. O saldo ficou em 87,53 milhões de dólares ( 7,1% em volumes - 36,4 mil toneladas, e 4,4% em preço - 2,4 dólares por quilo).

O principal destino dos embarques brasileiros foi os Estados Unidos. O país encerrou o ano com participação de 38,8% no volume total comercializado pela indústria nacional, com um aumento que chegou a 20,2% em relação ao ano anterior.

O principal estado exportador de lácteos foi São Paulo, com participação de 29,5% nas remessas e embarques que renderam 25,8 milhões de dólares no período. O estado do Amapá, por sua vez, foi o que obteve a maior variação anual, crescendo 182,4% de um ano para o outro. O salto veio com a venda de 12,1 milhões de dólares e uma participação de 13,8% do total de lácteos exportados pelo Brasil nos doze meses do ano passado.

Produtor pede políticas públicas

O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag/RS), Eugênio Zanetti, diz que 2023 foi desafiador pela conjunção de estiagem no verão e pelas enchentes provocadas pelo El Niño ao longo do ano, agravado pela entrada massiva de lácteos do Mercosul, sem ações governamentais efetivas.

“A gente precisa com urgência de programa de Estado, que atravesse governos, com ações efetivas de curto, médio e longo prazos, com planejamento estratégico e um horizonte para o futuro da cadeia leiteira”, disse.

Para 2024, Zanetti acredita em tendência de melhoria no setor a partir de março, com retomada do consumo, principalmente pela volta das atividades escolares. “Parece que o mercado vai se regular por conta própria. No ano passado, se o produtor esperava alguma medida do governo ficou a ver navios”, falou.


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