Quebra no trigo turbina importação, e Argentina deve retomar hegemonia

Quebra no trigo turbina importação, e Argentina deve retomar hegemonia

Com safra nacional menor, moinhos do Rio Grande do Sul já recebem cargas do cereal

Itamar Pelizzaro

Produção gaúcha foi frustrada em 2023 pelos efeitos do El Niño

publicidade

A Argentina deverá retomar a hegemonia como maior fornecedor de trigo ao Brasil, por conta da queda na produção nacional na última safra. O Rio Grande do Sul embarcou excedentes superiores a 3 milhões de toneladas de trigo nos dois últimos dois anos e este ano precisará importar até 700 mil toneladas. “Em dezembro já houve a chegada de três navios da Argentina com destino a moinhos gaúchos”, afirmou o analista Elcio Bento, da consultoria Safras & Mercado. “Essa será uma realidade da nossa situação de abastecimento, tendo maior necessidade de importação por conta de uma safra que era para ser de 11,5 milhões de toneladas e está vindo para 8,6 milhões, sendo ao menos 3 milhões de toneladas de trigo de baixa qualidade”, disse.

No Rio Grande do Sul, a estimativa inicial era de colher 5,4 milhões de toneladas, pouco abaixo das mais de 6 milhões de toneladas produzidas na safra anterior. As previsões foram frustradas pelos efeitos do El Niño, com chuvas e umidade excessiva, reduzindo a colheita a 3,2 milhões de toneladas, com 70% do volume considerado de baixa qualidade e não utilizável para moagem. “Isso dá bem menos do que é o consumo dos moinhos gaúchos, que é próximo a 1,9 milhão de toneladas”, explica Bento.

Rússia perde espaço

No Brasil, a área plantada na safra passada foi 0,6% superior à do ano anterior. Houve queda de cerca de 10% no RS, sendo compensada por elevação de área no Paraná e em Estados da região do Cerrado. A consultoria ainda está consolidando os números, mas a produção deve ficar em torno dos 8,6 milhões de toneladas no país, já computando a perda severa no território gaúcho e redução no Paraná, onde a estimativa de 4,3 milhões de toneladas foi reduzida à colheita de cerca de 3,7 milhões de toneladas.

No primeiro quadrimestre da atual temporada - agosto a dezembro de 2023 -, a Rússia vendeu mais trigo ao Brasil do que a Argentina. “Isso é raro, dificilmente acontece. A última vez foi em 2009 e 2010, quando a Argentina perdeu o posto de maior vendedor do Brasil para os Estados Unidos”, lembra Bento. De dezembro de 2022 a novembro de 2023, os argentinos exportaram menos de 4 milhões de toneladas. “Para a temporada atual, a estimativa é de que exportem cerca de 8,5 milhões de toneladas”, calcula Bento.

Retenciones

A Argentina aumenta sua presença aproveitando a vantagem logística e a isenção do pagamento da tarifa externa comum, em detrimento da Rússia, que foi o maior fornecedor nacional no primeiro quadrimestre e agora perde espaço. Conforme Bento, a tendência de maior participação da Argentina no mercado internacional chega depois que o país vizinho resolver suas questões políticas internas, com a eleição de Javier Milei. “No ano passado, a Argentina poderia ter exportado mais, mas como o então presidente e candidato (Milei) falava em redução das retenciones (impostos de exportação), eles deixaram de vender no ano passado para vender este ano. E o Brasil é o principal destino das vendas”, estimou o consultor.

Bento estimou que, depois de comprar 4,5 milhões de toneladas no mercado internacional no ano passado, o menor volume importado desde a década de 80, para essa temporada o Brasil deve importar 6,2 milhões de toneladas de trigo, que será o maior volume desde a temporada 2019/2020.

Veja Também


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895