Uma construção no centro do debate

Uma construção no centro do debate

Não é de hoje que se faz necessário um diálogo entre os que defendem que a cidade precisa se desenvolver economicamente e aqueles que buscam preservar o território urbano para manter seu equilíbrio ambiental.

Correio do Povo

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Está tendo ampla repercussão e gerando debates a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae) de vetar a construção de um grandioso empreendimento comercial de 45 andares no Centro Histórico, no entorno do Museu Júlio de Castilhos e abrangendo um espaço entre as ruas Fernando Machado e a Duque de Caxias, em Porto Alegre. A decisão do instituto, que é um órgão técnico, se baseia no fato de que a edificação está muito além da altura atualmente permitida para construção naquela parte da cidade, por conta de envolver uma área de imóvel tombado, o próprio museu, e gerar um sombreamento sobre prédios históricos, como o Palácio Piratini e a Catedral Metropolitana.

Não é de hoje que se faz necessário um diálogo entre os que defendem que a cidade precisa se desenvolver, gerando mais empregos, rendas e negócios, e aqueles que buscam preservar o território urbano para manter seu equilíbrio ambiental, de forma que os moradores da cidade também possam se reconhecer em suas ruas e traçados, assegurando a memória coletiva. Realmente, não é fácil dar um bom resultado para essa equação, mas é preciso que se façam os estudos necessários para que se tenham as certezas de que eventuais obras terão o melhor custo-benefício para todos. No caso em tela, o veto do Iphae pode servir de uma espécie de freio de arrumação para que a comunidade e as suas entidades representativas possam ser ouvidas e dar sua contribuição para que se chegue a um consenso sobre tema tão sensível, com repercussões de monta na vida dos porto-alegrenses.

Erigir um prédio de tais proporções, o qual seria o segundo mais alto da Capital, é uma ação que deve ser cercada de toda a cautela necessária, uma vez que mexe com o cotidiano de milhares de pessoas que moram, trabalham ou circulam naquele bairro. O desafio de viver em sociedade implica, na melhor versão do contrato social de Rousseau, colocar o bem comum acima dos interesses segmentados e particulares.


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