O coordenador especial da Organização das Nações Unidas (ONU) de respostas à exploração e abusos sexuais, Christian Saunders, se reuniu com o vice-governador Gabriel Souza nesta sexta-feira em Porto Alegre para alinhar obter informações sobre o andamento das ações do Rio Grande do Sul no combate a estas práticas criminosas após o contexto da enchente. Questionado pelo Correio do Povo, em entrevista exclusiva após o encontro, se, de fato, teria havido estas ocorrências, ele afirmou que “é melhor prevenir do que remediar, citando Benjamin Franklin”.
“Devemos trabalhar nesta prevenção, não esperarmos para ver se aconteceu ou não. Precisamos, sim, cuidar para que não aconteça”, disse ele, antes de visitar o Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) Vida, no bairro Sarandi, local mantido pela ONU Migrações e Gabinete do Vice-Governador para receber pessoas atingidas pelas cheias. “O que aconteceu aqui foi algo sem precedentes, ninguém esperava. O governo está tomando medidas rápidas, mas, para aqueles que perderam suas casas, o ente governamental nunca é rápido o bastante. As pessoas querem voltar para suas casas”, acrescentou.
Experiente em situações de conflitos e desastres globais, disse ter estado recentemente na Turquia, onde acompanhou os esforços do governo local após terremotos atingiram o país. Esteve ainda em Roraima, acompanhando a situação dos imigrantes venezuelanos. Perguntados sobre como a ONU vê a situação de possíveis abusos sexuais nas guerras da Rússia com a Ucrânia e Israel contra o Hamas, na Faixa de Gaza, disse que “infelizmente, isto é algo que não ocorre somente no Brasil”.
“É algo de escala mundial. Temos que considerar todas as naturezas destas tragédias, quer seja em termos climáticos ou imigrações. Há muitas pessoas em situação de vulnerabilidade, que são mais suscetíveis a sofrer este tipo de crime. Os homens vão lutar na guerra e deixam suas mulheres e crianças em casa sozinhas, ou mesmo as famílias precisam sair de suas casas, e tudo isto gera vulnerabilidades”, destacou o coordenador.
O membro da ONU ainda disse que “a maior parte das pessoas em situações de conflitos faz um trabalho sério”. “Mas não se pode esquecer que, quando você está trabalhando numa situação humanitária, você tem mais poder e certos privilégios. Se as pessoas forem mal-intencionadas, elas podem sim, infelizmente, usar desse poder para cometer esse tipo de crime. Uma das principais funções das Nações Unidas é prestar atenção também nisso, a fim de prevenir o máximo possível para que isso não aconteça”.
Souza: inteligência das forças de segurança trabalha para evitar estes crimes
Já o vice-governador ressaltou que o tema da exploração sexual é vista com atenção pelo governo estadual, e destacou as parcerias com s agências das Nações Unidas para auxiliar os afetados pelas cheias. “Temos uma série de ações e políticas preventivas a esse tipo de crime. No caso dos CHAs, temos esta preocupação e um trabalho conjunto com a inteligência de nossas forças de segurança para evitar este tipo de acontecimento dentro dos abrigos”, afirmou Souza.
Ainda conforme ele, “felizmente, não houve relatos de qualquer crime deste tipo nos CHAs nos primeiros dias após a enchente”, e denúncias sobre tentativas criminosas foram rapidamente tratadas, com os responsáveis presos. “Depois disto, não tivemos mais notícias de crimes deste tipo após. Inclusive, é o próprio estado quem está presente fazendo a segurança. Não a terceirizamos para outras empresas de maneira nenhuma”, destacou o vice-governador.
Felipe Faleiro