Vencedores do Prêmio da Academia Rio-Grandense de Letras protestam após denúncia de racismo durante cerimônia

Vencedores do Prêmio da Academia Rio-Grandense de Letras protestam após denúncia de racismo durante cerimônia

Escritora Eliane Marques repudiou as falas do presidente da entidade Airton Ortiz durante o evento, que aconteceu nesta quinta-feira, dia 12

Correio do Povo
Escritora Eliane Marques repudiou as falas do presidente da entidade Airton Ortiz

Escritora Eliane Marques repudiou as falas do presidente da entidade Airton Ortiz

A premiação da Academia Rio-Grandense de Letras (ARL), que ocorreu na noite desta quinta-feira, dia 12, acabou com denúncias de racismo e revolta por parte dos escritores presentes.

Segundo o perfil no Instagram “Onde Pousam os Livros”, do jornalista Leonardo Schneider, durante o discurso do presidente da entidade, Airton Ortiz, houve um momento em que o autor comentou sobre a grande tradição literária do estado, “ele disse acreditar, embora não seja estudioso do assunto, que o motivo seja a imigração alemã e italiana no RS, diferentemente do restante do Brasil, ‘colonizado’ por escravizados”, diz o relato.

Mediante a fala, a plateia ficou constrangida e a escritora Eliane Marques, vencedora da categoria Romance com o livro “Louças de Família” , interrompeu o presidente da ALR e repudiou a fala. Ainda segundo o relato de Schneider, após o discurso de Ortiz, a autora subiu ao palco, acompanhada dos escritores presentes e exigiu uma retratação pública da entidade e destacou que a Academia Brasileira de Letras foi fundada por Machado de Assis, apontando diversos outros autores negros nacionais e locais.

Ainda durante a noite de quinta, Ortiz pediu desculpas “por ter se expressado mal e afirmou que queria dizer o oposto, que os imigrantes receberam condições muito melhores do que os escravizados”, lê-se na publicação. Ao final do evento, os premiados se recusaram a posar para uma foto coletiva.

Procurado pelo Correio do Povo, Airton Ortiz, disse que a ALR ainda irá se pronunciar publicamente sobre o ocorrido. “Minha fala foi infeliz (e assumo a responsabilidade pelo meu erro, pois acabei dando uma conotação distorcida do que eu queria dizer), reconheci tão logo me foi chamada a atenção, e imediatamente pedi desculpas diante do mesmo público que ouviu o que eu havia falado. É óbvio que eu condeno todo tipo de manifestação racista e por isso me desculpei na hora”, comentou.

A redação do Correio do Povo tentou contato com Eliane Marques, mas até o momento da publicação desta matéria não houve resposta. O espaço segue aberto. A escritora publicou no Instagram, um texto em que relata o ocorrido e reforça a necessidade e importância da luta antiracista “Agradeço às diversas pessoas brancas que pronunciaram frases de apoio e que subiram ao palco comigo numa manifestação antirracista diante do que havia ocorrido. Mas é preciso que mais e mais se levantem de suas cadeiras de conforto”. Diversas personalidades da capital comentaram o vídeo.

Já há uma grande repercussão do caso, Manuela d'Ávila publicou em sua conta no Instagram um vídeo da fala de Eliane durante a premiação, apontando que “É preciso uma retratação pública!” e prestou apoio à escritora, “Mais do que a denúncia, Eliane se revolta, com razão, com o silêncio. Silêncio é cumplicidade. Todas as pessoas em situação de violência sabem disso”.

Confira a nota da ARL:

“Retratação

Ontem, durante a entrega do Prêmio Academia Rio-Grandense de Letras, ao fazer um histórico do surgimento precoce das instituições culturais no Rio Grande do Sul, falei que isso em muito se devia aos imigrantes alemães e italianos, pois eles tinham liberdade para se reunirem em associações, publicarem seus jornais e praticarem suas culturas. Enquanto isso, nas regiões colonizadas por escravos, infelizmente eles não tiveram liberdade para esse tipo de atividade. Por culpa, obviamente, de quem os escravizava.

Dito de improviso e sem completar o raciocínio acima exposto, minha fala teve cunho racista. Assumo a responsabilidade pelo meu erro, pois acabei dando uma conotação distorcida do que eu queria dizer. Reconheci tão logo me foi chamada a atenção e imediatamente pedi desculpas diante do mesmo público que ouviu o que eu havia falado. É óbvio que eu condeno toda e qualquer manifestação racista, tenho um histórico de vida que comprova isso, e por isso essa retratação pessoal, que em nada envolve a Academia Rio-Grandense de Letras.

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​​​​​​Airton Ortiz”


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