E no final das contas?
Adriana Haas dá boas-vindas ao novo ano com uma reflexão sobre como evitar futuros arrependimentos

Foi no último dia das miniférias que vi essa placa. Mesmo com a chuva e o vento frio do verão uruguaio, pedi ao meu marido que parasse o carro para fotografar – logo eu, que tiro tão poucas fotos em viagens. Mas trata-se, em espanhol, de uma pergunta que vem guiando minhas escolhas nos últimos anos, desde que me percebi na maturidade: e no final das contas?
No segundo semestre de 2024, quando meu corpo se mostrou mais frágil do que eu supunha, a pergunta ganhou força descomunal. Parece que é assim mesmo que acontece: a gente precisa encarar a possibilidade da morte para desejar que a vida valha a pena. Ou melhor: não apenas desejar (porque isso é fácil), mas tomar atitudes para que o desejo não se perca em algum ponto de nossas vidas atarefadas.
Quando estamos no piloto automático do cotidiano, mal paramos para pensar sobre a vida que almejamos – e quando o fazemos, é comum ter que encarar alguns arrependimentos. Arrisco dizer que é impossível chegar na maturidade sem uma boa coleção deles, porque fazer escolhas equivocadas é próprio do ser humano. No entanto, a essa altura do campeonato, mais produtivo do que lamentar os arrependimentos passados é tentar evitar os futuros.
Mas como fazer isso? É claro que não há garantias, mas pesquisas e o conhecimento popular dão uma pista: os piores arrependimentos são pelas coisas que deixamos de fazer. Enquanto os arrependimentos pelo que fizemos nos importunam por algum tempo e depois se esvaem, os arrependimentos pelo que não fizemos (chamados de “arrependimentos por omissão”) podem nos acompanhar pela vida inteira.
Não é por acaso que arrependimentos dessa categoria são os cinco principais que as pessoas têm antes de morrer – conforme relatado pela enfermeira australiana Bronnie Ware, que trabalhou com pacientes em cuidados paliativos durante muitos anos e escreveu o best-seller “Antes de partir”. No final das contas, o que ficou para eles foi o gosto amargo de não terem vivido o que gostariam.
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É por isso que tenho estado comprometida em fazer as minhas contas fecharem com saldo positivo – no presente, quando ainda tenho tempo para mexer na ordem dos fatores e alterar o produto. Isso fez com que minhas perguntas norteadoras mudassem. Em vez de “em que isso será útil?” ou “o que vou ganhar com isso?”, surgiram outras:
“Vou me divertir fazendo isso?”
“Posso ajudar alguém dessa forma?”
E, principalmente: “No futuro, vou me arrepender se não fizer?”
No final das contas, “al fin y al cabo”, não quero ser uma mulher amargurada por uma vida desejada e não vivida. E como a gente nunca sabe quando será o nosso último dia, melhor não adiar (mais uma vez) para o ano que vem. 2025 ainda tem 364 dias e muito potencial pela frente. Feliz Ano Novo!
Adriana Haas é jornalista, escritora e tradutora da maturidade. Tem dois livros e uma newsletter semanal sobre o assunto, e adora reunir mulheres para conversar sobre ele – porque acredita que, juntas, as maduras são revolucionárias.