Feira castilhense

Feira castilhense

Ser gaúcho é um sentimento, valorizar as coisas e valores que vêm sendo passados de geração a geração

Paulo Mendes

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Tive a honra de participar no último dia 20, da 25ª Feira do Livro de Júlio de Castilhos, minha terra querida, a qual nunca sai de dentro de mim. Agradeço ao patrono, professor Flavi Lisboa Filho, e ao músico nativista Kayke Mello, que me acompanharam no Sarau Literário no palco da Rua Coberta, ocasião em que falamos de literatura, regionalismo, lemos trechos de “Campereadas – Coração de pandorga” e Kayke interpretou belas canções ao violão. Gente que estava trabalhando nos arredores, ao final, veio nos cumprimentar pela apresentação e pelo que dissemos na ocasião. Porque uma feira de livro não é voltada apenas para professores, estudiosos, pesquisadores e doutos, mas sim para todos, inclusive as pessoas mais simples, trabalhadores comuns, que também apreciam a leitura como uma companheira e amiga. 

A feira castilhense, embora pequena e simples, consegue agregar a comunidade, mobiliza a rede escolar, envolve os corais, ativa os músicos, compositores e intérpretes, reúne diariamente as pessoas mais velhas, grupos de amigos no evento realizado ao lado da antiga Praça Central, a mesma que há 50 anos este cronista esperava o Gemada, o Amarelão, e ir para casa após mais um dia de aula. Ia feliz, porque havia aprendido coisas novas, tivera contato com pessoas e, principalmente, livros. Até hoje eles me acompanham em qualquer lugar que eu ande. Foi lá naquele rincão de terra vermelha, naquela cidadezinha no meio do Estado, que aprendi a dar valor a eles. E isso, meus amigos e minhas amigas, a gente nunca deve esquecer. 

As “campereadas”, felizmente, são um sucesso em todos os lugares por onde passam. Estão nas cidades, nos galpões de estância, nas oficinas dos arrabaldes, em todos os estados do Brasil, e andam até na Europa e Estados Unidos. Onde existe um gaúcho de alma e coração, está lendo e sentindo o cheiro do pago, do anoitecer na querência, mantendo contato com os usos e costumes de sua terra, mesmo que nunca tenha usado bombacha ou montado a cavalo. Ser gaúcho é um sentimento, valorizar as coisas e valores que vêm sendo passados de geração a geração. Por isso esse sentimento se perpetua. Foi lindo ver as pessoas conhecendo e se surpreendendo com “Coração de pandorga”, este livro que já se transformou num best-seller regionalista. 

Queria deixar um abraço ao prefeito Bernardo Quatrin Dalla Corte, ao vice-prefeito Carlos Rezende, à diretora de Cultura do Centro Cultural Álvaro Pinto, Marilurdes Rossato Langaro, à diretora da Biblioteca Pública Francisco Salles, Anajara dos Santos Floriano, e à professora Lurdinha Pereira, pelo incansável trabalho. Voltei da antiga Vila Rica com o coração apaziguado. Tenho que me recompor, juntar meus cacos e me reconstruir. Na vida diária, no cotidiano, a gente se despedaça, depois junta pedacinho por pedacinho para enfrentar essas batalhas que travamos desde o amanhecer até altas horas da noite. Todos os dias, um sim e o outro também. Encontrei velhos amigos e fiz novos. E assim segue a vida, esta dádiva que nos foi oferecida pela generosidade do Criador. Seguiremos trabalhando, porque sem o trabalho, como diz a canção de Gonzaguinha, o homem não tem honra e sem a sua honra, se morre e se mata. Não dá para ser feliz. 


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