Os bolinhos de maconha na escola
O caso de uma professora que levou bolinhos recheados com maconha nos deixa perplexos
Foi uma semana intensa e os leitores encheram meus canais de contato com opiniões acaloradas, protestos, indagações e sugestões. Adoro estes contatos. E não poucas vezes me inspiro, sim, no que os queridos e fiéis leitores da coluna me enviam para escolher, ou até pesquisar, o tema a ser abordado aqui no Correio do Povo. Desta vez me sugeriram de Trump a influencer, de racismo a feminicídio.
Do Trump, não sei o suficiente, pouco entendo de política internacional e não me motivo a falar sobre o que acontece lá no mundo dos gringos. Quanto aos supostos crimes do tal influencer, sinceramente nunca dei audiência ao sujeito e não seria agora. Aliás, o que tem de bobagem nessas redes sociais, colocadas diariamente por quem leva essa marca - influencer -, só para ganhar dinheiro em cima de quem tem preguiça até de pensar, assusta. Pobre geração. Quanto ao feminicídio no interior gaúcho, foi tão revoltante saber do assassinato brutal praticado pelo ex-vereador, que estava livre, leve e solto para matar uma mulher descrita por todos como um ser humano maravilhoso, e isto mesmo após a Polícia pedir sua prisão pelo descumprimento das tais “medidas protetivas”, que, ao pensar nas crianças cujas vidas agora estão estraçalhadas, e em como a Lei Maria da Penha ainda é só papel em tantas circunstâncias, prefiro calar minha revolta. Ou vou falar demais. Indignação é pouco.
Porém, o contato de uma professora, que costuma ler a coluna e, volta e meia, até levar os meus textos para seus alunos trabalharem em sala de aula, me chamou mais a atenção. Nós não nos conhecemos. Somos de cidades um pouco distantes. Mas ela se chama Marisa e está irritadíssima com o caso da professora que foi denunciada por vender bolinhos de chocolate recheados com maconha para crianças, no Vale do Sinos. “Já sofremos tanto, contra tudo e contra todos, não precisamos inimigos na própria trincheira”, escreve a minha leitora e educadora. Concordo com ela. E a entendo perfeitamente: não é só o injusto trato salarial que nossos mestres sofrem, historicamente, ou mesmo as dificuldades das escolas públicas em boa parte das cidades brasileiras. É também uma onda crescente de desrespeito por parte de alunos e pais de alunos, que levam à repetição de violências contra professores, vítimas até mesmo de agressões dentro da sala de aula. Não é necessário que um professor ajude, ele próprio, a agravar uma realidade já bastante pessimista em termos de futuro.
“O que passa na cabeça de uma pessoa assim?”, pergunta Marisa, uma defensora árdua, segundo me contou, do Proerd. Não sei, professora. Não sei. Talvez queira mesmo viciar crianças – porque, se confirmado o fato, ela será indiciada num processo penal como traficante de drogas, ou talvez seja outra coisa. Ruim, obviamente. Sinceramente, dona Marisa, eu torço para que seja algum engano. Brincadeira de mau gosto, coisa do tipo. Que a perícia diga que não é nada disso. Não só pela crueldade que seria colocar drogas no corpo de crianças pequenas, todas elas felizes ao pensar que estavam comendo o seu doce favorito, mas pelos professores como um todo. Pela beleza que é ensinar. Acolher e conduzir, amparar e apontar caminhos, formar. Dias melhores para o nosso povo passam pela luta persistente por uma educação de qualidade. Com as pessoas de qualidade que a formam. Se até isso cair na mão de bandidos, aí qualquer esperança de futuro se esfarela de vez.