Israel tem triunfo e castigo
O que mais tem chamado a atenção e provocado indignação pelo mundo é a morte de crianças, e de civis em geral, neste conflito de Gaza
O triunfo israelense foi o resgate, com vida, de quatro reféns que estavam em poder do Hamas. Este tipo de ação é sempre muito difícil e perigosa, tanto para quem executa como para quem está por ser salvo. A ação, logicamente, foi festejada em Israel, especialmente, na chegada dos resgatados. O fato, no entanto, deixa uma preocupação maior com relação aos cerca 120 outros reféns que estão nas mãos da organização terrorista. Deverão ser ainda mais vigiados, podendo passar por piores situações do que aquelas que já enfrentam, como uma forma de represália. Outro aspecto é que, enquanto as famílias dos quatro resgatados festejam, com justiça, a sua chegada, as famílias dos demais têm aumentada a sua angústia.
Ações
Israel tem sido criticado pelo elevado número de civis palestinos que têm morrido em Gaza, devido às ações de suas forças armadas. O que é procedente. No presente caso dos reféns, também houve a mesma crítica. A ponto de o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, manifestar sua disposição em levar o assunto para debate no Conselho de Segurança da ONU. Uma atitude meramente pro forma, pois Israel conta com o veto dos Estados Unidos naquele Conselho, envolvendo qualquer decisão que lhe seja contrária.
Porém, neste caso dos reféns, se tratava de uma operação específica de resgate. E aí sabe-se bem como funciona. Elimina-se quem quer que esteja pela frente obstaculizando a operação. E neste caso misturaram-se entre as vítimas civis e militares do Hamas. De forma que a ação de Abbas no Conselho de Segurança deveria se concentrar mais em outro tema que ele vai levar, o qual tem apoio generalizado: a busca de um acordo para pôr fim ao conflito. Um acordo que contemple o fim do conflito com a respectiva libertação de todos reféns que continuam em poder do Hamas.
Desgaste
Esta guerra completou oito meses no sábado, 7, e só se mantém pela obstinação do premiê Benjamin Netanyahu e de seus parceiros do Gabinete de Guerra. O fato é que Bibi continua sendo alvo de imensos protestos em Israel devido ao que os manifestantes chamam de má condução do país durante o conflito. Segundo a Agência AFP, milhares de pessoas foram às ruas neste sábado em atos contra o governo. Em Tel Aviv, houve confrontos com a polícia e pelo menos dez pessoas foram detidas. A forma como Netanyahu vem conduzindo a guerra levou o general Benny Gantz, integrante do Gabinete de Guerra, a pedir demissão.
A manutenção desse confronto, com todas as atrocidades que vêm sendo cometidas de lado a lado, levou Israel a ser igualado com o Hamas e a Jihad Islâmica, entrando na “lista da vergonha” da ONU. Isto, por violações dos direitos das crianças durante o conflito. Inquestionavelmente, o que mais tem chamado a atenção e provocado indignação pelo mundo é a morte de crianças, e de civis em geral, neste conflito de Gaza.
Cegueira
O que se percebe é que as autoridades israelenses não ligam para isto. Demonstram entender que, em nome da caça ao Hamas, pode-se matar indistintamente todo o civil que for encontrado pela frente. É isto que levou o país a entrar na “lista da vergonha”. E aí, mais uma vez, falta uma reflexão por parte dessas autoridades, que resolvem descarregar contra a ONU, como fez o embaixador de Israel, Gilad Erdan, ao se dizer “profundamente chocado e enojado com esta decisão vergonhosa do secretário-geral”.
As autoridades israelenses, ao invés de dizer que essas decisões premiam o Hamas, deveriam se dar conta sobre o porquê de ter aumentado tão significativamente nos últimos meses o número de países que apoiam a constituição do Estado da Palestina. Ao invés de insistir nessa guerra, por que não sentar a uma mesa de negociações com os países árabes, dentro do contexto dos Acordos de Abrahão, traçados pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, e ir em busca de um acordo amplo para a região. Um acordo que precisará contemplar duas coisas: o Estado da Palestina e a segurança de Israel. E nunca esquecendo para as autoridades israelenses que, ao fazerem um acordo com os vizinhos árabes, estarão aumentando uma aliança contra aquele que é seu inimigo maior na região e que sustenta os movimentos terroristas: o Irã.