Médico acusado de matar esposa em Canoas também é indiciado por maus-tratos ao filho de 2 anos
Polícia conclui que homem administrava sedativos à criança desde os sete meses de idade

A Polícia Civil indiciou por maus-tratos o médico preso preventivamente por assassinar a esposa, a enfermeira Patrícia Rosa dos Santos, em Canoas. A nova investigação, conduzida pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), concluiu que o homem ministrava sedativos no próprio filho, de apenas dois anos.
Segundo o delegado Maurício Barison, a denúncia original relatava possíveis abusos sexuais, o que levou à realização de exames físicos e psicológicos. As análises não identificaram sinais de violência sexual. No entanto, um vídeo gravado na escola da criança chamou a atenção dos investigadores. Nas imagens, o menino aparece com andar cambaleante, fala arrastada e os olhos semicerrados, como se estivesse sob efeito de medicamentos.
Após a prisão do médico, foram localizados frascos vazios de sedativos na casa da família. Embora exames toxicológicos não tenham confirmado a presença da substância — devido ao tempo decorrido desde a ingestão —, o conjunto de depoimentos e provas levou à conclusão de que o pai administrava Clonazepam ao filho desde os sete meses de vida.
De acordo com a polícia, o objetivo não seria causar dano direto à saúde da criança, mas sim alterar seu comportamento. Ainda assim, o delegado entendeu que o médico expôs o filho a risco, caracterizando maus-tratos.
O suspeito já está recolhido ao sistema penitenciário desde outubro de 2024, acusado de matar Patrícia com uma combinação de medicamentos sedativos. O crime foi registrado no apartamento do casal, também em Canoas.
As investigações apontaram que o médico colocou comprimidos de Zolpidem em um pote de sorvete consumido pela esposa. Depois, teria aplicado Midazolam e Succitrat, medicamentos usados para sedação profunda. A mulher teria perdido a consciência e morrido por intoxicação.
A equipe do Samu, que prestou o primeiro atendimento, também foi indiciada por ter movimentado o corpo da vítima, o que dificultou a perícia. Três profissionais envolvidos já conheciam o médico, que atuava como colega de plantões.
O laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmou a presença dos sedativos no corpo da vítima. Frascos dos mesmos medicamentos e uma gaze com sangue foram encontrados na mochila do médico, apreendida após o crime. Câmeras de segurança registraram o momento em que ele saiu com a mochila do apartamento. O sangue foi identificado como sendo de Patrícia.
Em depoimento, ele negou o crime, mas apresentou explicações contraditórias. A polícia também apurou que ele teria furtado os medicamentos em um plantão no Samu de Porto Alegre, na véspera do assassinato.
O casal mantinha um relacionamento há cerca de quatro anos e tinha um filho. Durante a gravidez, segundo familiares, o médico já havia tentado provocar um aborto. A criança está sob os cuidados de parentes da mãe.