Polícia Civil indicia médico por morte de esposa em Canoas
Inquérito também responsabilizou equipe da Samu por mover corpo no local do crime

Foi concluído o inquérito sobre a morte da enfermeira Patrícia Rosa dos Santos, de 41 anos, em Canoas, na Região Metropolitana. Conforme a Polícia Civil, o companheiro dela, um médico de 48 anos, teria sido o autor do crime em 22 de outubro. Preso preventivamente na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan), ele foi indiciado por feminicídio qualificado, falsidade ideológica, adulteração de local de crime e furto qualificado.
A investigação também resultou no indiciamento de outro médico, além de um enfermeiro e um motorista de ambulância, da equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que atuou na ocorrência. Eles teriam movimentado o corpo da vítima, por isso também vão responder por adulteração de local de crime.
O delegado Arthur Reguse, que conduziu a investigação, evita definir a equipe da Samu como cúmplice, mas pondera que os profissionais podem ter sido manipulados pelo suspeito. Isso porque os três já o conheciam antes do crime.
"A equipe da Samu atendeu a ocorrência por 1h20min e conseguiu fazer uma lambança e atestar a morte como infarto agudo do miocárdio. Não há nada que sustente essa possibilidade, nem sintomas clássicos disso, como sangramento no nariz. Faltam elementos para apontar que eles agiram como cúmplices, mas podem ter sido cooptados ou manipulados pelo suspeito. Os três já o conheciam há anos, por conta de diversos plantões na Samu, então pode ter havido conivência”, aponta o delegado Arthur Reguse.
Na semana passada, a Secretaria da Saúde de Porto Alegre confirmou que o médico teria furtado sedativos que foram encontrado no corpo da mulher. O episódio ocorreu enquanto ele fazia plantão na Samu da Capital, um dia antes do crime. Para o delegado Arthur Reguse, o furto evidencia premeditação no assassinato.
“Ele furtou remédios na véspera do crime. Isso comprova que houve premeditação. A família da vítima o define como um homem estranho, as explicações dele são confusas e contraditórias. Enfim, ele pode negar, mas sabemos que foi uma morte planejada”, destaca Reguse.
O inquérito concluiu que o médico teria administrado comprimidos de Zolpidem – medicamento utilizado para dormir – em um pote de sorvete ingerido pela vítima. Na sequência, ele teria dado à esposa uma dose de Midazolam – para que ela não sentisse dor. Por fim, ele teria aplicado o Succitrat – usado para sedar pacientes – para ocasionar a morte.
Para aplicação das substâncias intravenosas, o suspeito teria utilizado um acesso na parte de cima do pé de Patrícia, para que, quando ela tivesse os braços examinados, não houvesse perfuração. O médico já havia agilizado os trâmites funerários da vítima quando foi preso.
Câmeras de segurança do prédio em que o casal morava flagraram o momento em que o suspeito sai com uma mochila e a leva até o carro. Dentro dela estavam os medicamentos utilizados por ele, além de uma gaze com sangue.
Inicialmente, o médico afirmou que os recipientes haviam sido levados vazios para treinar outros profissionais iniciantes. Ao ser questionado se era responsável por administrar treinamentos, afirmou que não, justificando apenas que “os médicos se ajudavam”. Já sobre a gaze com sangue, disse que poderia ter pego por engano, por ser “desorganizado”.
Laudos do IGP comprovaram através do exame de DNA que o sangue era de Patrícia. Além disso, os frascos que estavam na mochila tinham dosagens exatas para dopar uma pessoa. Outro ponto que chamou a atenção foi a confirmação de que ele não teria tentado salvar a esposa, enquanto ela sofria o infarto. “Ele não fez manobras cardiorrespiratórias.
Outra incongruência no depoimento é o fato de que o médico alegou não saber onde estava o celular da mulher. Porém, através dos familiares, a polícia foi informada que a morte de Patrícia foi comunicada pelo marido pelo próprio telefone dela.
Em um relacionamento que durava cerca de quatro anos, Patrícia e o médico tiveram um filho, atualmente com dois anos. A criança está sob cuidado de familiares.
Durante a gravidez da mulher, porém, por não querer o nascimento, o médico teria tentado induzir um aborto na mulher, de acordo com relatos de familiares à Polícia Civil.
“Ela teria sido dopada e, a partir de então, ele teria inserido um instrumento no útero da mulher, com intuito de induzir o aborto. Mas isso não aconteceu e o filho nasceu”, pontua o delegado Arthur Reguse.